Revista Educação Gráfica

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PREFÁCIO

Desafio do 3º Milênio
O processo de mudanças que caracteriza a evolução humana continua a se acelerar cada vez mais. Um dos resultados é a obsolescência rápida de quase tudo que aí está. Consideremos o automóvel: lançado o modelo novo, o fabricante já está atuando para aperfeiçoá-lo. Esta mentalidade de aceitar e praticar mudanças deve ser adotada no ensino. Devemos deixar de procurar culpados e tratar de identificar os pontos. Fracos do ensino a fim de melhorar o desempenho dos professores. Mudar diretrizes, ementas, currículos ou planos de aula, em geral não passam de desculpa para fazer algo e deixar tudo como está.  A questão é que há um cipoal de propostas e de atuações isoladas, notando-se a ausência de debates que levem não a um consenso – espécie de capitulação pra uns – mas a diretrizes que orientem o professor e os responsáveis pela política pedagógica. O Desenho perdeu quase totalmente seu espaço no ensino de 1º e 2º graus e o que restou são exceções isoladas; no geral, o desenho entra como acessório ou pontos esparsos em alguma disciplina. No 3º grau o aluno é alfabetizado em noções de Desenho durante um ou dois semestres, quando antes fazia abstrações teóricas, pois já conhecia os fundamentos. A meta, portanto, deve ser elevar o nível do ensino. Aqui estão propostas para ABRIR A DISCUSSÃO (e a Revista abre seu espaço) considerando dois pontos: 1) A metodologia de ensino; 2) O conteúdo e a informática. Em assembléia de professores, falei sobre “O balanço e o limão”. Comecei mostrando um limão como pêndulo na extremidade de um cordão e passei a mostrar como era o ensino no Brasil imperial. Falei do surgimento de recursos novos; o giz de cor, o retroprojetor e o computador; contudo, a conversa do professor permaneceu a mesma! Este era o balanço que eu fazia. E o limão era eu próprio: naquele momento, azedo, porém à disposição dos colegas interessados em mudar a mentalidade. Cerca de 300 professores estavam no auditório e apenas UM deles se interessou por detalhes. Os demais 99,7% preferiram ficar quietos. Esta quietude na área de Desenho tem de ser quebrada e há dois bons motivos: Estão disponíveis conhecimentos novos sobre o funcionamento do cérebro que permitem entender como ocorre a aprendizagem; Estes conhecimentos poder ser utilizados para desenvolver a inteligência e a criatividade, o mundo interior do aluno. Duas novas tecnologias educacionais estão disponíveis. Uma é a Aprendizagem Acelerativa, lançada em 1984 pelo brasileiro Luiz Machado, PhD da UERJ; disseminada por 80 universidades e empresas do mundo inteiro, a A.A. tem poucos seguidores no Brasil (ver artigo neste número). A 2ª metodologia foi criada pelo psicólogo romeno Reuven Feuerstein; aplicada inicialmente em Israel, espraiou-se por diversos países e já chegou ao Brasil.
Entendo que não devemos aguardar o endosso do mundo acadêmico a fim de aplicar os métodos novos, uma vez que ambos têm oferecido muito bons resultados. É o seguinte ponto a ser discutido: Que conteúdo ensinar para o novo século? Em Desenho, seguramente, não serão construções geométricas ou algoritmos decorados para as provas. Há que mostrar conceitos aplicáveis ao mundo atual e usá-los para desenvolver a inteligência e a criatividade do aluno. Paralelamente, devemos evitar a disseminação da falsa idéia de que o computador tudo resolve, enquanto o homem apenas assiste, passivamente, comodamente. O computador é realmente muito cômodo, mas pode levar o usuário a acomodar-se intelectualmente. No Desenho, ele não passa, por ora, de uma aperfeiçoada prancheta eletrônica porém incapaz de resolver, por si próprio, problemas de Geometria ou de projetar uma casa. O computador é escravo da mente humana e não devemos inverter as posições. Fica, pois, a idéia de que o Desenho deve ser ensinado sob o ASPECTO CULTURAL, da mesma maneira que deve permanecer como MEIO DE EXPRESSÃO da arte espontânea – meio de ex-primir, espremer para fora, extravasar emoções e sentimentos e não para treinar críticos de Arte – e MEIO DE COMUNICAÇÃO – já que, em sua essência desenho é linguagem não verbal. Aliás, nesse aspecto, muito pouco e mal explorado. Outro aspecto inovador no ensino de Desenho é que ele pode ser usado como NÚCLEO CENTRAl, aglutinador de disciplinas capaz de evitar a compartimentação dos estudos, dando-lhes a unidade que hoje inexiste. Ficou dito anteriormente que o Desenho poderia ser aplicado para desenvolver a inteligência. Sabe-se que cerca de 50% do córtex cerebral do homem é dedicado à visão. Tarefas extremamente complexas são realizadas de modo inconsciente e sua extrema velocidade e automatização não havia permitido o aperfeiçoamento desta capacidade mental. As Neurociências ou Ciências da Mente podem agora oferecer subsídios que possibilitam o desenvolvimento da inteligência visual. Se juntarmos este aspecto a uma metodologia nova poderemos assumir a posição de liderança no ensino (ensino em geral, não apenas de Desenho!), fazendo com que o Desenho retome seu ligar de destaque no ensino.
É um desafio para todos os educadores de Desenho. E a Revista Educação Gráfica está aberta para o debate de idéias.

Prof. Gildo Montenegro (Professor Aposentado da – UFPe – Universidade Federal de Pernambuco)

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Gildo Montenegro