Revista Educação Gráfica

Revista Educação Gráfica

PREFÁCIO

O encaminhamento de duas questões me parece particularmente oportuno como introdução ao volume 7 da Educação Gráfica: a primeira delas convida o leitor a visualizar mais amplamente o universo em que a comunidade da área gráfica atua; a segunda estimula-o a verificar, através da serie de publicações da Revista, como tem evoluído este campo do conhecimento. Qual a amplitude do termo educação gráfica? Ele expressa um interesse partilhado entre pesquisadores e educadores de disciplinas gráficas distintas que colaboram entre si, mantendo, no entanto, a especificidade de seus conceitos, métodos e instrumentos? Denota a cátedra onde se estabelece o diálogo e dá-se o intercâmbio de conteúdos, técnicas e procedimentos metodológicos relativos a várias delas? Designa uma espécie de saber que transita em inúmeras ciências, ultrapassando assim suas fronteiras? Que transformações a educação gráfica vem sofrendo? Há contradições entre as práticas adotadas, divergências e/ou conciliações entre a tradição e a inovação? Qual a influência dos paradigmas atuais, formuladores da nova ordem de exigências no mundo do trabalho, na tomada de decisões quanto aos rumos da educação gráfica? Colocando-me na posição de leitora, recorro aos artigos publicados nesta versão na tentativa de antecipar a resposta à primeira pergunta. Surpreende-me a pluralidade de temas, abordagens e motivações que o conduzem: registro histórico sobre diversas linguagens gráficas e seus significados; relato e análise sobre o papel da expressão gráfica na criação de produtos visuais; exposição e avaliação de ambientes e ferramentas computacionais de variados usos didáticos e profissionais; apresentação de estudos, fundamentados teoricamente, que exploram a criatividade em diferentes contextos; descrição de projeto concebido como possível proposta para reorganização de espaço arquitetônico e veiculação de informações sobre programa de pós-graduação, com vistas a fomentar a produção cientifica na área do design. Ao dedicar-me à leitura dessas narrativas, constato a riqueza de aplicações em que a “competência gráfica” faz-se necessária, onde sua ação é estimulada e eficazmente exercida. Concluo, então, que a educação gráfica pode apresentar, em determinados momentos, um caráter multi, inter e até mesmo transdisciplinar – dimensões estas respectivamente reveladas nos enunciados das perguntas alternativas acopladas à questão inicial. Voltando minha atenção para o segundo questionamento, inclino-me a revisitar as edições anteriores da Revista. Ao folheá-las, lembro-me de Marcel Proust, em particular de quando ele focaliza metaforicamente, com a habilidade dos literatos, um ponto essencial para que se faça a auto-reformulação da “visão de mundo”. Confesso já ter feito menções às palavras do escritor em outras ocasiões, pela profundidade que elas encerram e, principalmente, por se aplicarem com tanta propriedade ao conceito de conhecimento; Proust alerta para o fato de que “a verdadeira viagem de exploração não consiste em ver novas paisagens, mas em adquirir novos olhos”.* Ao reler os artigos publicados desde o primeiro número da Educação Gráfica, não somente tenho a oportunidade de perceber o quanto se avançou até aqui como, também, a de fazer novas descobertas. Afinal, não sou a mesma leitora de cada um dos anos passados; todos nós nos transformamos, durante essa trajetória, através de estudos, pesquisas, experiências, daquilo que vivenciamos em nosso ambiente de trabalho e das trocas realizadas em eventos cujo foco de interesse era a expressão gráfica. Em virtude disso, a sensação mais presente e significativa quando acompanhamos tal linha do tempo – e eis aí o que há de suam importância nesta releitura – é a de ver-nos como parte integrante e propulsora do processo dialético que ocorre nesta área do saber. Pois bem, a revista Educação Gráfica desenha com clareza esse “movimento”, trazendo-nos de 1997 a 2003. Cabe ao leitor, agora, explorar com novos olhos as paisagens que lhe são oferecidas na viagem de exploração ao volume 7.
”Les vrai voyage d’exploration ne consiste pas à voir de nouveaux paysages, mais à acquèrir de nouveaux yeux.” Marcel Proust

Profa. Dra. Maria Helena Wylie Lacerda Rodrigues (Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Autores

Maria Helena Willie Lacerda Rodrigues

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